A primeira agulhada a gente nunca esquece

17 de agosto de 2020


O ano era 2010. Eu, no auge dos meus 15 anos, rebelde que só, resolvi que iria colocar um piercing — independente do que meus pais pensassem. Aliás, eu já sabia muito bem o que eles pensavam e eu corria um sério risco de ter o metal arrancado da minha cara assim que chegasse em casa. Por isso, escolhi o melhor piercing para esconder: a “ferradura” no septo.

Por ser menor de idade, eu precisava que algum responsável assinasse o papel de consentimento. Como já deve ter ficado claro, meus pais jamais iriam concordar com isso e, portanto, eu tive que procurar alguém que fizesse o furo clandestinamente. Poderia ter dado muito ruim, mas sobrevivi.

Encontrei um estúdio no centro da cidade que, por algum motivo, fazia perfuração em menores de idade sem autorização dos pais. Eu fico imaginando o tipo de perrengue financeiro que eles deveriam estar passando pra correr esse risco, mas o cara nem hesitou mesmo sabendo da minha idade. Ele simplesmente disse “se teus pais descobrirem, não conte que fui eu”. E eu lá tinha cara de quem ia lembrar o nome do rapaz e ainda por cima dedurar pros meus pais?

Sei que ele cometeu um crime, mas ei, todos nós já cometemos um crime ou outro. Eu sei que você também já roubou jujuba de buffet.

De qualquer forma, fiquei extremamente feliz e prossegui com a perfuração. Fiquei nervosa, é claro, pois sempre ouvi dizer que furar o septo doía muito — e, não minto, doeu bastante sim, mas foi divertido. Prazeroso, até. É aquela história né, quem gosta de body modification tem que ser um pouquinho masoquista.

Lembro que saí de lá extremamente feliz e já com o piercing escondido — afinal de contas, piercing novo não pode ser tocado, então eu não poderia escondê-lo no caminho de casa.

Eis que chegou o dia em que meus pais descobriram: em uma noite aleatória, sonhei que ia mostrar meu piercing para alguém e, dormindo, puxei o piercing para baixo, de modo que ele não ficasse mais escondido. Nessa época, já fazia alguns meses que tinha colocado, então já estava quase cicatrizado e o risco de infecção era relativamente baixo. Quando minha mãe passou no quarto, me acordou e viu os ferrinhos saindo do meu nariz, ela quase teve um treco. Minha mão foi instintivamente esconder o piercing, mas não deu tempo. Ela tinha visto e já tinha assimilado o que era — o que rendeu algumas brigas com meus pais por algum tempo.

Infelizmente, após mais alguns meses, minha rinite tornou manter o piercing no nariz insustentável, e acabei tirando. Existem pessoas que conseguem ficar com o piercing, mesmo com rinite, mas eu não consegui.

Se esta foi a primeira agulhada, então isso quer dizer que tiveram outras, certo? Exatamente.

Em 2013, quando fiz 18 anos, resolvi furar de novo. O mesmo lugar. Porque eu sou burra e não aprendo com meus erros. Não tem outra desculpa. Nem preciso dizer que acabei tendo que tirar pelos mesmos motivos, não é?

Eis que, em 2017, eu resolvi dar mais uma chance. Desta vez, coloquei um medusa:


(Saudades ser bonita)

A perfuração foi tranquila, mas não demorou muito para eu ter problemas com este piercing também. Mesmo após meses depois da perfuração, vira e mexe o furo começava a sangrar e eu tinha que cuidar do piercing como se fosse recém furado com bastante frequência. Óbvio que isso não acabou bem: eu tive uma infecção tão ferrada que a pele de dentro “engoliu” o piercing, de modo que eu só pude tirar no hospital com anestesia local. Foi sensacional.

Depois disso, nunca mais tive coragem de colocar outro piercing — embora a vontade permaneça até hoje.

O que eu tive vontade, tho, é de fazer tatuagens. E essas agulhadas, rapaz, se eu pudesse estaria levando algumas exatamente agora. Mas, sobre as tatuagens, eu conto outro dia.

Cuidem de si, cuidem dos seus e fiquem bem. ♥

Esta postagem faz parte da Blogagem Coletiva de Agosto do Together, um projeto para unir a blogosfera! Para saber mais, clique aqui.

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