Eu tô bem, eu tô bem ♫

29 de setembro de 2020

Faz tempo que não tento fazer um post sem ter um assunto específico em mente, então não desistam de mim se este texto ficar horrível. Ou desistam, sei lá. Eu desistiria. Aliás, no fundo eu já desisti.

Mas eu tô bem, sabe? Passo os dias dormindo, as noites acordada, mal interajo com a minha família, minha alimentação tá aquela porcaria de sempre, tô tentando tomar meus medicamentos no horário certinho (e falhando miseravelmente), tenho centenas de trabalhos da faculdade acumulados, a pandemia lá fora continua a todo vapor, tenho consumido álcool com frequência e sem nenhum motivo específico, minha mente continua sendo incapaz de lidar com mais de uma tarefa por dia, a falta de água no Paraná tem prejudicado minha higiene pessoal mais do que a depressão, eu troquei um escapismo por outro e eu não faço a mínima ideia do que estou fazendo com a minha vida.Mas eu tô bem, sabe? Tá tudo bem. Tudo tranquilo. Sob controle. Às vezes não. Mas geralmente sim. Frequentemente não, na realidade. Mas às vezes sim. Tenho cometido uns erros vez ou outra. Quase todo dia. Mas eu conserto. Quando tenho energia. Que é quase nunca. Eu preciso aprender a guardar os brinquedos ao final da brincadeira.

Tá tudo certo. Minha vida social está ótima dentro do que a pandemia permite, tenho conversado com várias pessoas todos os dias — isso é tão distante da minha realidade habitual, eu não me sinto sozinha e isso não está me sufocando, ou talvez esteja, levando em conta que ainda não falei com ninguém hoje, que estou deliberadamente ignorando as mensagens que recebo no WhatsApp, que estou evitando olhar as redes sociais e que estou fazendo mil e uma coisas que posso fazer sozinha sem a ajuda de ninguém, ok, talvez eu esteja um pouco sobrecarregada, ou talvez eu só seja preguiçosa, ingrata e não tenha consideração pelas pessoas ao meu redor.

Ontem à noite eu lembrei que não existe um momento na minha vida em que eu fui capaz de me ver na terceira pessoa e pensar qualquer coisa sobre mim pela perspectiva de uma outra pessoa, e que toda e qualquer reflexão acerca de mim mesma carrega consigo uma série de pensamentos e sentimentos não tão favoráveis porque, no fim das contas, eu não sou mais aquela menina que quebrava as coisas ao sentir raiva, mas ela ainda vive dentro de mim e eu a carrego para todo lugar que eu vou, como um fardo que eu tenho que carregar pelo resto da minha vida, uma sujeira no meu sapato da qual eu não consigo me livrar, uma mancha de vinho na camisa branca, a gravata cujo nó está tão apertado que eu não consigo mais tirar — em resumo, eu sempre vou ser um conjunto das minhas qualidades e defeitos que ninguém nunca viu e talvez nem vai ver, e eu não acredito que posso ser amada porque eu não consigo me amar assim, mesmo que ninguém mais saiba das partes de mim que não amo.

Mas eu tô bem, sabe? A vida continua, tô fazendo minhas coisas, talvez nem tanto, talvez não esteja, mas eu tô bem, eu juro que tô bem. Choro antes de dormir toda noite, mas eu tô bem sim. Tô ótima. Melhor que eu só quem já partiu dessa pra uma melhor. Que é onde eu queria estar também. Mas eu tô bem, juro! Eu tô bem, eu tô bem, eu tô bem... ♫

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