Ted Bundy: Falling for a Killer

1 de outubro de 2020


Eu ando numa vibe bem true crime ultimamente, assistindo vídeos sobre casos e inclusive entrevistas policiais com pessoas que mataram alguém. Um passatempo meio mórbido, admito, mas quem nunca? Eu não costumava gostar de true crime antes de conhecer Buzzfeed Unsolved, mas depois eu criei gosto pela coisa e me aventurei em canais mais “sérios”.

Eis que, recentemente, estava olhando o catálogo da Amazon Prime Video e vi que tinha um documentário sobre Ted Bundy, um serial killer ativo nos anos 70, responsável pelo desaparecimento e assassinato de entre 20 e 30 garotas. Lembro que, tempos atrás, lançou um filme sobre ele estrelado por Zac Efron e, na época, havia um debate sobre a romantização de serial killers e como esse filme iria contribuir para isso ao colocar um ator renomado extremamente charmoso no papel. Acontece que, na realidade, Ted Bundy era exatamente o homem extremamente charmoso e “maravilhoso” que faria com que ninguém desconfiasse dele. De qualquer forma, eu não sabia muito sobre ele, sobre suas vítimas, e resolvi dar uma chance para o documentário, chamado Ted Bundy: Falling for a Killer.

O documentário não foca apenas em Ted Bundy e suas vítimas, mas sim na “família” de Ted na época em que cometeu os assassinatos. Na época, Ted tinha uma namorada que tinha uma filha, e ele as tratava extremamente bem. No primeiro episódio, Elizabeth Kendall, namorada de Ted Bundy na época, conta sobre como o conheceu e como se iniciou o romance entre os dois. A narração é acompanhada de vários registros fotográficos que fazem qualquer um se questionar se esse homem era realmente capaz de cometer os crimes que cometeu. Era um casal perfeito, e Ted conquistou até mesmo Molly, filha de Elizabeth, com quem brincava com frequência e tratava como se fosse sua própria filha.

Até que começaram os desaparecimentos de moças em idade universitária na região em que Ted morava e, aos poucos, a polícia foi coletando pistas acerca do sequestrador, levando-os a Ted Bundy — que, de início, por algum motivo, eles não acreditavam ser o criminoso e portanto não investigavam a fundo. Porém, Elizabeth prosseguiu notando “coincidências” entre o suspeito procurado e Ted, fazendo com que ela tivesse dúvidas acerca do próprio namorado. Ao mesmo tempo em que estava desconfiada, não queria acreditar, e por isso estava sempre em contato com a polícia, na esperança de que eles justificassem tais coincidências e ela pudesse descansar sabendo que seu Ted não era o Ted que estava atacando jovens moças universitárias.

O fato é que o documentário fala muito sobre esse impasse que Elizabeth e Molly (sua filha) sofreram ao se deparar com a realidade dos crimes cometidos por Ted, bem como toda a comunidade que existia na época, na qual a sociedade estava gradualmente se abrindo mais para a participação feminina em espaços de poder — e o quanto os desaparecimentos causados por Ted acabaram influenciando nesse movimento, causando medo e pânico entre as mulheres que desejavam estudar e constituir uma carreira.

Não se trata de um documentário fácil de assistir. Não é o tipo de documentário que romantiza o assassino, na minha opinião, mas que mostra todas as suas facetas: o namorado, o estudante brilhante, o advogado, o assassino. Mostra as pessoas que conviveram com essas diferentes facetas e o impacto emocional dos feitos do serial killer; como suas vidas foram mudadas completamente pelos seus crimes e o trauma, a dor, a culpa e a vergonha que carregam consigo até hoje.

Reconheço que, no início do documentário, eu não tinha nenhum sentimento em relação a Ted Bundy. Sabia pouco sobre sua história, sabia que era um homem horrendo e que demorou muito para ser pego por conta do seu charme e seu carisma, mas não tinha nenhum tipo de opinião formada sobre ele e seus crimes — apenas que não deveriam ter existido, é claro. A medida em que fui me aprofundando mais em sua história, realmente vendo suas vítimas, ouvindo depoimentos e mais detalhes sobre seus crimes, fui também nutrindo sentimentos negativos pelo assassino — como era de se esperar, é claro.

Em geral, eu não costumo julgar uma pessoa com base no fato de ela ter matado alguém. Não consigo odiar uma pessoa simplesmente por um acontecimento desses, pois a questão não é exatamente o que aconteceu, mas sim suas motivações. Existe uma série de assassinatos que ocorrem por motivações absurdas, mas que são compreensíveis levando em consideração que o ser humano é dotado de personalidades complexas e nem tudo ocorre simplesmente porque o outro é um filho da puta e ponto.

Contudo, no caso de Ted Bundy, não havia uma motivação que justificasse seus crimes — ele mesmo descrevia ter uma necessidade de matar assim como um alcoolista bebe álcool, ou seja, se tratava de um vício. Não se trata de uma pessoa “normal” que se envolveu em circunstâncias emocionalmente carregadas que a levaram ao ato de matar outra pessoa, mas simplesmente uma pessoa viciada em tirar vidas. E tudo isso vestindo a máscara de bom moço, amado pela mídia e todos ao seu redor.

Se, de início, eu não tinha nenhum sentimento negativo em relação a Ted Bundy, no final do documentário eu acabei até mesmo aliviada ao saber que ele foi executado, mesmo sendo contra a pena de morte. As violências que Ted cometeu já eram o bastante para que eu criasse uma antipatia pela pessoa, mas se tornou ainda pior ao ver a maneira que ele realmente agia em frente à imprensa, na corte, o jeito que ele sempre jurava ser inocente e como muitas pessoas realmente acreditavam nele... Difícil.

Mais do que tudo, esse documentário mostra que a vida de dezenas de garotas pode ser tirada por um único sujeito, que mesmo com todas as evidências contra, ainda consegue convencer muitas pessoas de que não é culpado simplesmente por ser um homem charmoso e carismático. E o mais triste é pensar que coisas assim acontecem até hoje — mesmo com todas as provas, se o homem tem $tatu$, a justiça nunca estará do lado das mulheres.

O documentário possui 5 episódios e vale muito a pena para quem se interessa por true crime, por documentários que mostram os efeitos do trauma na vida das pessoas, e até mesmo para pessoas que se interessam no feminismo da época.

» Este post faz parte de uma série de posts com recomendações de produções macabras, aterrorizantes, mórbidas ou perturbadoras para comemorar o mês do Halloween. Para ver mais, clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

The Orb Weaver © 2021