Aniquilação (2018)

5 de outubro de 2020


O horror cósmico é um gênero que tem chamado muito a minha atenção nos últimos anos, não apenas por causar uma série de sensações indescritíveis, mas também por não ser pautado em produções forçosamente macabras e os famosos jump scares (que eu odeio). Por isso, quando um título se denomina horror cósmico, automaticamente capta o meu interesse.

Para aqueles que não sabem, o horror cósmico é um gênero no qual o medo surge como resposta à limitação da compreensão humana sobre o universo e da sua insignificância perante o cosmos. Nestas estórias, os protagonistas se deparam com eventos ou criaturas que não apenas não conseguem descrever, pois não obedecem nenhuma lógica conhecida pelo homem, mas também fazem com que eles percebam a pequenez de si mesmos e sua incapacidade de compreender a vida, o universo e tudo mais. Se você é do tipo que precisa de explicações no final do filme, este gênero não é para você.

O fundador do gênero é H. P. Lovecraft, escritor do século XIX (e pessoa horrível) muito famoso pelo Mito de Cthulhu, que se expandiu tanto a ponto de formar uma espécie de universo no qual inúmeros artistas se baseiam para produzir suas artes — tanto na literatura quanto nas artes visuais. Suas obras são inquietantes e abrem espaço para uma série de questionamentos que nunca serão respondidos. Portanto, são obras que também podem ser descritas como perturbadoras.

Aniquilação, um filme original Netflix lançado em 2018, é frequentemente encaixado nos gêneros terror e ficção científica, mas também pode ser considerado uma obra de horror cósmico. Ele conta a história de Lena, uma professora de biologia celular que resolve embarcar em uma espécie de missão suicida em uma zona de quarentena na qual ocorrem eventos inexplicáveis chamada The Shimmer. As motivações de Lena tem a ver com sua vida pessoal, tendo em vista que seu marido esteve nessa zona meses antes e foi o único sobrevivente de uma expedição para chegar ao farol, onde os fenômenos estranhos se iniciaram, e tentar destruir o que quer que fosse o gatilho para tais fenômenos. Ao retornar para casa, Kane, marido de Lena, não consegue explicar onde esteve e o que fez durante o ano em que passou “desaparecido” em uma missão secreta, e após entrar em um estado de saúde crítico, Lena resolve ir explorar os mistérios do Shimmer, junto com uma equipe de mulheres dispostas a embarcar nessa “missão suicida”.


O filme é lindo em vários aspectos: a fotografia é ótima, o Shimmer é um local completamente uncanny, no sentido de ser e não ser familiar ao mesmo tempo, mas é repleto de paisagens bonitas (e outras nem tão bonitas assim) que fazem você se questionar se seria um lugar tão ruim assim. Aos poucos, as mulheres vão descobrindo o que aconteceu com a equipe expedicionária anterior a elas, por meio de pistas que os mesmos deixaram no local, e começam a descobrir a “lógica” por trás dos fenômenos bizarros que encontram no caminho. Não é spoiler que algumas pessoas morrem por conta desses fenômenos, mas acho importante ressaltar que não necessariamente são fenômenos ruins — ao contrário da maioria das produções de terror, no qual a criatura antagonista é sedenta por sangue e vidas humanas, em Aniquilação o antagonista é uma “situação” incompreensível e surpreendentemente neutra; as pessoas não morrem porque algo ou alguém quer matar, mas simplesmente porque é assim mesmo. Não há explicações, apenas é.

Não se trata de uma história intrigante apenas pelos fenômenos estranhos, mas também por tudo que é abordado no diálogo entre as mulheres, tanto nas situações extremas quanto em momentos mais intimistas. Compreender a motivação de cada uma para entrar em uma área da qual praticamente ninguém retorna torna as personagens não apenas “corajosas”, mas também humanas, com suas limitações e fraquezas que adicionam para a condição de desamparo que obras de horror cósmico proporcionam.

Como se já não fosse o suficiente, a trilha sonora também é maravilhosa, não no sentido de ter músicas bonitas, mas bizarras e extremamente congruentes com o resto do filme.

Existem vários vídeos e textos internet afora tentando explicar o filme, o que seria o Shimmer, como ele teria surgido, e até mesmo interpretando o filme como uma alegoria para o processo cancerígeno — que eu pessoalmente acho bastante interessante, uma interpretação bem válida na minha opinião, mas que ainda assim tira a graça do filme de ser simplesmente inexplicável. Perante essas análises, tomei para mim duas narrativas: a alegoria do câncer e o puro e simples horror cósmico que nos lembra a todo momento como somos limitados e incapazes de compreender a vida; o que, no fim das contas, um câncer também faz.

» Este post faz parte de uma série de posts com recomendações de produções macabras, aterrorizantes, mórbidas ou perturbadoras para comemorar o mês do Halloween. Para ver mais, clique aqui.

2 comentários:

  1. Eu AMO esse filme, amo pelas interpretações e amo pelo simples macabro futurista. Acho um filme de uma poética linda demais!

    O desafio não foi criado por mim huaha eu só mudei algumas opções https://bruna-morgan.blogspot.com/p/40-semanas-de-musica.html

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  2. Eu lembro de ter visto uma parte desse filme e das interrogações surgirem na minha cabeça, o que geralmente acontece pois sempre pego filme da metade para o final aqui em casa, mas sei lá achei ele meio brilhante. Meu pai disse que não gostou, já que era ele quem estava vendo de fato, mas do pouco que vi nem surgiu o gostinho de querer ir mais a fundo - por mais que seu texto bem feito esteja me fazendo maquinar algo na cabeça a vontade de vê-lo permanece baixa, mas isso é mais por esse gênero não me apetecer de fato. Assistir algo que ressalte a ideia de eu ser um grão de areia no meio do universo de fato não me apetece pois isso, bem isso é algo que eu já sei mesmo krkeworkw.

    Mas vou acompanhar a sua série de postagens Maria, por mais que não vá ver nada, vou ler sobre seu ponto de vista sim.

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