Sobre o não-amor

11 de outubro de 2020


Debby Hudson @ Unsplash

E mais uma vez eu me percebo transformando o melhor aliado no pior dos inimigos. Minha mente insiste em ver ameaça onde não há, fazendo-me ativar defesas completamente dispensáveis. Acho que é o fardo de ter um apego desorganizado, não?

O que eu aprendi sobre o amor é que eu nunca vou ser digna o suficiente de recebê-lo. Que eu preciso me esforçar além das minhas capacidades, e que mesmo assim não será o suficiente. Eu aprendi que toda conquista é frágil demais, que a todo momento meus feitos são vulneráveis, passíveis de destruição.

Aprendi que o outro sempre vai ter muito mais poder sobre certos aspectos das coisas que faço do que eu mesma. Que o outro sempre vai pisar no meu castelo de areia, e vai doer como se tivesse atravessado uma faca pelas minhas costelas a fim de chegar no coração. E que isso é a prova de que o amor é real.

O amor que eu conheci é um que me lembra constantemente que eu não sou especial. Que quem veio antes e foi embora merece muito mais que eu. Que, para mim, ficam as sobras do que já foi dedicado a outro anteriormente. O amor que eu conheço é composto por migalhas de um afeto perdido; um amor que respira com a ajuda de aparelhos. E mesmo esse amor não me é concedido de graça; apenas o tenho quando ajo conforme o desejado — ainda que de forma insuficiente.

Esse amor torto, cruel e esmagador é o que eu conheci e, portanto, o único que eu compreendo como amor. Todo outro tipo me parece estranho, meio que não-amor; um amor que existe, mas que eu simplesmente não consigo compreender como amor. Como se o meu dicionário pessoal rejeitasse a entrada de novas definições, fazendo-me acreditar cegamente em uma concepção de amor extremamente limitada.

E todos os dias eu preciso lutar para compreender que, lá fora, existem outras definições de amor, existem outras formas de amar, e existem também outras formas de ser amada. Eu só preciso aprender a aceitar. Aceitar não o amor, mas o não-amor — até que um dia não haja diferença entre os dois.

I wanna love but I'm afraid to
I wanna give myself up, but I want to turn myself in
I learned to hate 'cause I was made to
I am a product of those who came before me
Eyes Shut - Tigers Jaw

Um comentário:

  1. Apesar do seu texto falar sobre uma forma de amor um tanto cruel eu diria, acho extraordinário como o ser humano tem essa amplitude de ver a mesma coisa de varias formas. Para muitos o amor é simples, já para outros é uma das emoções mais complexas do planeta.
    Creio que você está no caminho certo para uma boa mudança.
    Beijo!

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