Sobre não querer ir

12 de outubro de 2020


Eduard Militaru @ Unsplash

The worst part about cancer isn't what it does to you.
But what it does to the people you love.

Com essas palavras, Wade Wilson deixa sua namorada para ir atrás de uma proposta de cura experimental, que posteriormente o tornaria uma aberração chamada Deadpool. Diagnosticado com um câncer metastático em estágio avançado, seu desejo era evitar que Vanessa sofresse o vendo definhar até que, por fim, a morte chegasse. Um diagnóstico desses certamente deixa uma pessoa desconsertada, mas também torna evidente o quanto essa pessoa se importa.

Wade certamente não foi o único a se preocupar mais com as pessoas amadas do que consigo mesmo, como exemplificado na canção Cancer da banda My Chemical Romance:

Now turn away
'Cause I'm awful just to see
'Cause all my hair's abandoned all my body
All my agony
Know that I will never marry
Baby I'm just soggy from the chemo
But counting down the days to go (...)
'Cause the hardest part of this
Is leaving you

Mesmo se tratando de obras fictícias, é impossível negar a veracidade dessas palavras ao conhecer uma pessoa que realmente sofre de câncer em estágio avançado. Saber que a morte está logo ali é sempre algo que muda a pessoa inteiramente; o emocional fica completamente bagunçado e a pessoa pode ter reações que nós, familiares e amigos, nunca esperaríamos. E, apesar de tudo, fica óbvio o quanto a parte mais dolorida para a pessoa é causar sofrimento àqueles que ama.

Vi isso de perto durante os 6 meses em que minha mãe batalhou contra o câncer. Por ter sido numa região do cérebro responsável pelo raciocínio lógico, controle de impulsos, entre outros, as reações emocionais dela eram bastante difíceis de lidar — nada dói mais do que ver a própria mãe chorar. Contudo, mesmo sem conseguir pensar de forma coerente, mesmo sem conseguir se expressar completamente, era claro como o dia o quanto ela ainda se importava conosco. Diversas vezes ouvi ela dizer que faria de tudo para estender seu tempo na terra porque não queria nos deixar, porque ela nunca suportou a ideia de nos abandonar, de ir embora. Ela nunca suportou a ideia de nos deixar à mercê do mundo, sem ter ela para nos amparar nos momentos de necessidade.

Uma das últimas coisas que ela me disse antes de partir é que a única coisa que ela queria era nos ver bem. Ela não queria que caíssemos em depressão, que nos tornássemos pessoas frias e desunidas. Ela queria que fossemos felizes, realizados. E todos os dias, quando eu acordo pensando que não quero mais estar nesse mundo, eu lembro dessas palavras. Eu prometi pra ela que ficaria bem, que viveria uma boa vida, que iria me realizar.

Eu sinceramente ainda duvido que tenho forças para isso, mas eu tento — afinal de contas, se eu cometer suicídio e encontrar ela no Outro Lado agora, que tipo de explicação eu poderia dar?

Cause there's no comfort in the waiting room
Just nervous pacers bracing for bad news
And then the nurse comes 'round
And everyone will lift their heads
But I'm thinking of what Sarah said
That love is watching someone die
What Sarah Said - Death Cab for Cutie

2 comentários:

  1. Tentei escrever um comentário três vezes. Nada foi bom o suficiente. Só queria dizer pra ti que eu entendo sua dor e fico grata por você poder traduzi-la em palavras, poder publicá-la pra, quem sabe, lidar melhor com ela. O que posso te dizer - da minha vivência, claro - é que com o tempo melhora. A gente aprende a lidar com as culpas, as promessas, e a encontra força pra seguir vivendo apesar da perda. Espero que você encontre esse caminho da forma que lhe for cabível, Maria, e que você consiga encontrar as coisas boas que sua mãe desejou pra você e sua família.
    Um abraço apertado!

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  2. Coisas que a gente nunca vai entender o porquê.
    Faço minhas as palavras da Shana, e espero que você encontre um caminho bom e seguro.
    Meus sentimentos para você e toda sua família.
    Abraço!

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