I'm not enough and I'm sorry

Toda pessoa que passa por nossas vidas deixa algum tipo de marca, seja ela boa ou ruim. O contrário também é verdadeiro e nós nunca temos controle sobre o tipo de marca que deixaremos nos outros. Só que às vezes é meio difícil acreditar que a ferida que está doendo na verdade está aberta há muito tempo, e não sarou até hoje porque você nunca se permitiu se curar.

Você nunca limpou a ferida ou fez a manutenção necessária; pelo contrário, sempre insistiu em deixá-la exposta para que qualquer coisa pudesse entrar, machucar mais, infeccionar.

O resultado são anos e anos de uma ferida que nunca cicatriza, uma ferida que sempre volta a sangrar, e a cada vez sangra mais. E o mais difícil é reconhecer que quem permite que o outro cutuque a ferida é você mesmo, e não o outro que força a entrada.

Algumas pessoas vão tentar te ajudar a cuidar da ferida, com a intenção de te ajudar a se curar. Porém, no fim das contas, o máximo que podem fazer por você é um curativo — no fim do dia, o processo de cura depende inteiramente de ti. E algumas pessoas deixam feridas mais profundas que as outras, e algumas pessoas conseguem cutucar mais fundo que as outras; ninguém é igual e a ferida sempre vai responder de forma diferente a cada novo toque.

Desde criança, eu aprendi que sou inadequada. Eu não deveria existir, porque sou um erro. Eu sei de onde isso vem, e eu sei que, no fundo, fui eu que interpretei tudo errado. Não foi minha mãe que não me amou, fui eu que não soube compreender o amor dela. E, por isso, eu pago o preço até hoje.

Eu aprendi que não tenho o direito de chorar ou de expressar qualquer emoção negativa, pois isso traria vergonha a mim e a toda minha família. E como uma pessoa que simplesmente veste as emoções no rosto, eu claramente me tornei uma vergonha, uma pessoa completamente inadequada que não deveria existir na maior parte das situações.

E há anos eu venho lutando para conseguir me livrar dessa vergonha, porque, assim como todo mundo, eu tenho o direito de me expressar. Eu tenho o direito de dizer o que penso, o que sinto, eu tenho esse direito! Ou será que não tenho? Se todo mundo tem, por que não eu?

Embora eu tenha feito algum progresso ao longo desses anos, a verdade é que eu não estou curada e não sei se um dia vou estar. Porque quando eu achei que finalmente tinha aprendido alguma coisa diferente, encontrei-me nadando contra a corrente novamente.

Percebi que não poderia mais falar sobre o que sinto sem ser invalidada, que não poderia mais me expressar sem que duvidassem de mim ou dissessem que meu pensamento é insuficiente. Que mesmo as coisas importantes pra mim não são importantes para os outros — pelo contrário, para os outros, podem possuir defeitos enormes, que invalidam toda a experiência e, logicamente, invalidam a mim indiretamente.

E eu, que queria acreditar não estar mais sozinha no mundo, encontro-me cada vez mais sozinha, cada vez mais invalidada e rejeitada. Eu tenho vergonha da minha própria existência e, exatamente nesse momento, tudo ao meu redor apenas reforça a ideia de que eu sou, de fato, inadequada, insuficiente, incapaz e, basicamente, um erro.

Sinto muito por existir. Eu também não queria.