Poderia ser uma carta pedindo seu perdão, mas eu não o quero

23 de novembro de 2020

Ou: Sobre como eu e você no fundo somos duas pessoas horríveis que merecem tudo de ruim no mundo, mas eu claramente sou hipócrita e desejo isso apenas a você

Tomar uma decisão é abdicar de outras possibilidades. Isso nunca foi segredo, e mesmo assim, eu — nós — continuamos sem aprender a lição. Como se, de alguma forma, pudéssemos barganhar com o mundo e ele nos desse acesso a tudo o tempo todo.

No fim, a verdade sempre vem à tona: temos que ser responsáveis pelas escolhas que tomamos. Abrir mão do que decidimos deixar para trás e compreender que, mesmo que algum dia tenha feito sentido, hoje já não faz mais. E não é fácil, claro.

E quando falo de responsabilidade, falo de arcar com as consequências. De não fazer milhares de planos B para conseguir nosso objetivos quando sabemos que o risco que estamos correndo é grande. Precisamos compreender que, às vezes, quando não dá certo, resta-nos aceitar.

Não temos o direito de empurrar nossas frustrações a ninguém. Não temos o direito de deixar nossos problemas para serem resolvidos por outros. Temos o direito de pedir ajuda, sim, mas jamais de abusar da boa vontade dos outros. E isso é algo que fazemos com frequência, não é mesmo?

Escrevo para ti, mas ao mesmo tempo escrevo para mim, porque sei que no fundo não há muita diferença entre nós. Ainda somos pessoas novas e imaturas, ainda estamos estudando, não precisamos manter uma casa com nosso próprio dinheiro, não precisamos nos desdobrar em mil pessoas para dar conta de trabalho, filhos, marido, casa, comida etc.

Bem lá no fundo, somos apenas pessoas egocêntricas que acreditam ter o direito de se fazer presente onde não foram convidadas. Pessoas que acreditam poder ocupar espaços que não são seus por direito. Que podem ultrapassar barreiras, ir e vir, sem o menor problema.

O mundo tá aí pra nos mostrar que não. Pra mostrar que tudo acaba, tudo muda, tudo tem consequências, tudo se fragmenta e por mais que juntemos todos os caquinhos, sempre vai ter uma pecinha faltando.

Absolutamente nada é como era antes. Um dia fez sentido, hoje já não faz mais. E, mesmo que a gente ainda acredite que faça, esse sentido é arrancado de nós como consequência de nossas próprias ações. Nós não podemos ter tudo. Somos pessoas castradas o tempo inteiro.

Sinto muito em lhe frustrar, mas eu precisava. Assim como um dia você também precisou frustrar alguém. Precisamos frustrar para não sermos frustrados. E não tem problema nisso. E eu digo que espero que você fique bem, mas, no fundo, eu espero mesmo é que eu fique bem, pois não há muita diferença entre nós. E, na realidade, você eu quero que vá para a casa do caralho.

2 comentários:

  1. Gente que post..... Amei!!

    obrigado pela visita no meu blog ❤💗💖💕

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  2. Hello, Maria!

    Uau, fiquei sem palavras (ainda mais com este final) e impactada com o post. Não consigo nem comentar um "a" a mais e espero que a pessoa citada realmente "vá para casa do caralho" (e você não é obrigada a perdoar).

    Beijinhos e obrigada pelos comentários gentis deixadas nas minhas cartas ♥

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