Unable to love the unlovable

27 de dezembro de 2020

Uma vez, falei para minha psicóloga que a existência de uma determinada pessoa me irritava. Ela perguntou “o que essa pessoa tem que você quer ter?”. Pus-me a pensar, e cheguei a conclusão de que ela tinha amor próprio — ou, ao menos, aparentava ter. Se não amor próprio, ao menos coragem de existir, coragem de se mostrar para o mundo, coragem de expor sua opinião, se fazer ser vista e ouvida. Coisas que eu nunca tive.

Eis que minha psicóloga me perguntou porquê eu nunca tive essa coragem. Por que eu não me permitia existir no mundo? A resposta, como quem acompanha este blog sabe, é que eu me odeio. Eu me considero uma pessoa ruim, uma pessoa chata, uma pessoa egocêntrica, babaca, em suma, uma pessoa da qual eu gostaria de manter o máximo de distância possível. Então por que expor esse lixo tóxico ao mundo? Desnecessário.

Eu sei que pessoas como eu não são atraentes. Não são legais de se ter perto. Eu sei que ninguém quer fazer amizade com a pessoa de cara fechada o tempo todo. Sei bem que ninguém vai se interessar por uma mulher (?) que nunca sorri para as fotos, que não consegue manter-se estável, que não consegue fazer outra coisa que não seja falar sobre a própria tristeza nas redes sociais.

Eu tenho tentado me amar mais, tenho tentado ser menos triste e um pouco mais agradável. Tenho tentado sorrir mais, tenho tentado ser menos estranha, ter movimentos mais graciosos, cuidar mais da minha aparência, tenho tentado valorizar o que gosto em mim e minimizar o que não gosto, tentado trocar minhas inseguranças pelas pequenas certezas que tenho... Mas, no fundo, eu só me odeio mais e mais. Essa não sou eu. Eu não sou assim. Eu não sou uma pessoa que ama a si mesma e se aceita como é.

Não sou a garota boazinha que muitos querem que eu seja. Também não sou a vilã orgulhosa de seus feitos e que não tem medo de mostrar sua sombra que eu achei que deveria ser. Eu não sou a mulher forte que um dia me disseram que eu era. Muito menos a donzela de olhos tristes capaz de transformar seus tormentos em artes profundas com as quais as pessoas conseguem se identificar.

Eu não sou nenhuma dessas pessoas — e nunca serei. Eu sou apenas uma mulher deprimida que mal sai do quarto e passa o dia inteiro pensando em true crime e se sentindo um lixo por não conseguir nem mesmo cuidar da sua higiene básica.

Eu não tô bem, e nem vou ficar. Eu não consigo ser uma pessoa agradável aos outros, nem para mim mesma. Eu sou claramente apenas um amontoado de matéria orgânica gastando recursos enquanto o mundo continua seguindo em frente — da pior forma possível, devo adicionar. Eu sou um desperdício.

2 comentários:

  1. Mашаaaa ♥ (achei chique demais o nome escrito dessa forma)

    Nossa, acho que eu nunca mais voltei aqui pra comentar (aliás, em blog nenhum), porque a vida né. Mas ainda bem que deu pra aparecer antes de acabar o ano pra poder dar um oi aqui!
    E, nossa, eu confesso que nem sei o que dizer depois de ler o seu texto (até porque eu não tenho absolutamente nada a acrescentar), mas preciso comentar como achei interessante a associação que sua psicóloga fez de que uma pessoa a irritava por ter algo que você queria ter. Acho fascinante como funciona a nossa mente, que nos faz ter sentimentos tão contraditórios (ao invés de ficarmos felizes pela outra pessoa, acabamos nos irritando por não sermos como ela). E isso é super normal, todos nós acabamos sentindo isso. E, bom, acho que é importante nós entendermos nossa essência e trabalharmos nosso psicológico em cima disso, por mais que ela pareça "feia" ou "insuficiente".

    Mas enfim, só queria marcar minha presença aqui e desejar forças pro próximo ano que provavelmente vai ser igual a esse xD

    Um beijão e até a próxima! ♥

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  2. Oi Masha!

    Eu acho que todo mundo é um pouco assim, egoísta, chato, irritante e que se descuida com coisas básicas de higiene. Mas a maioria esconde bem. Me identifiquei com seu texto porque fui assim por muito tempo, mas consegui passar por isso. Não posso dizer que me aceito 100% mas uns 20% já devo ter conseguido hahahah' é um processo difícil e dolorido, mas dar pra ir aos pouquinhos.

    Não te conheço muito mas duvido que tudo isso que você disse seja a verdade total. A maioria das pessoas que muito irritantes e que só atrapalham a sociedade não diriam isso delas mesmas. Espero que você fique bem e que consiga se aceitar <3

    Um beijo!
    Serenar

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